Ansiedade – uma reflexão a partir da psicoterapia somática

Ansiedade, a doença do século, o mal do século, o caminho para outras doenças e muito mais. Já todos sentimos ansiedade em algum momento, seja por medo, seja por antecipação dum evento bom. Portanto, nem sempre a ansiedade é má, também existe aquela “boa” ansiedade que provém da paixão, por exemplo. Ansiar por uma boa causa não é necessariamente mau.

Infelizmente, hoje em dia a ansiedade predomina e não da melhor forma. Ela chega a transtornar completamente a vida de uma pessoa. Os “ansiosos” são vistos como aqueles “irracionais” que sentem medo de algo que não conseguem explicar ou que são irritadiços e antipáticos. Por que as pessoas que sentem ansiedade são vistas dessa maneira?

Uma pessoa ansiosa é uma pessoa com o sistema simpático sempre ligado, por isso ela está agitada, “no limiar” da paciência e por vezes antipática.

Sistema Nervoso Simpático é responsável por preparar o organismo para situações de estresse e emergência, aumenta a respiração, frequência cardíaca, aumenta os níveis de açúcar no sangue, etc. Podemos dizer então que uma pessoa que esteja com o sistema simpático sempre ligado, é uma pessoa que está sempre em estado de alerta. Difícil não é?

Muitas das vezes as pessoas não têm consciência disso. Acham que é por causa do seu caráter ou feitio.

Acompanhei um homem acima dos 50 que dizia que ele era o “maldisposto” da família, aquele que gritava e que perdia a razão. Mais tarde, em terapia, descobriu que sofria de ansiedade. Quando aprendeu a lidar com ela, o seu “feitio” também melhorou e por consequência, a sua relação com a família.

A psicoterapia somática possibilita um processo de conhecimento profundo através de várias dimensões do ser humano e não apenas através da mente.

Toda a mobilização emocional gera uma reação corporal da mesma forma que toda a reação corporal gera uma mobilização emocional.

O corpo fala!

O corpo fala através dos sintomas, sensações corporais, dores, cansaço e doença.

Podemos dizer então que através da ansiedade o corpo está a comunicar que algo não está bem. É um sinal de alerta que o corpo encontra para comunicar um problema ou algo que necessita ser cuidado. E o que é a ansiedade? A ansiedade é uma antecipação de uma ameaça futura, uma tensão ou pressentimento que surge sem que, muitas vezes, a própria pessoa consiga inicialmente indicar um motivo concreto que sustente a angústia sentida.

É a possível antecipação da mágoa. Também podemos dizer que é ter medo da mágoa.

A pessoa sente que algo irá acontecer que causará dor, então começa a viver antecipadamente sentimentos de angústia e medo. É algo inesperado e incontrolável.

Geralmente os sintomas da ansiedade são taquicardia (aumento dos batimentos cardíacos), hipertensão (tensão alta), contração gástrica (sensação de nó no estômago), dificuldades respiratórias (falta de ar), boca seca, sudorese (transpiração excessiva), náuseas ou vómitos, diarreia, dor de cabeça, acufenos (zumbidos nos ouvidos) vertigens ou tonturas.

A ansiedade pode manifestar-se de muitas formas, como a asma, por exemplo.

Outros sintomas físicos podem ser as diabetes, dores nas costas, bexiga hiperativa, psoríase, doenças de pele, alopécia (queda de cabelo), perturbações do sono, etc.

As causas da ansiedade podem ser diversas, no entanto algumas das possíveis causas são as alterações hormonais, trauma, dúvidas sobre religião, orientação sexual, estilo de vida, conflitos familiares, morte, divórcio, alterações no estatuto socioeconómico, hábitos alimentares, consumo de substâncias etc.

Às vezes os ataques de ansiedade servem como um sinal para lidar com o stress de outra forma na nossa vida.

Devido a alguma “aceitação” social do transtorno da ansiedade, as pessoas recorrem de forma mais recorrente à terapia porque é algo “legítimo” para procurar uma solução mais interna. Com o tempo a pessoa aprende a gerir a sua ansiedade e consegue até evitar a curvatura máxima dos ataques de ansiedade e pânico, conhecendo-se e conhecendo os desencadeadores da ansiedade e fortalecendo o seu corpo. No entanto, este processo demora algum tempo.

Aprender a lidar com os ataques de ansiedade é a solução mais viável. Não é evitar tê-los, mas sim, aprender a estar. Não podemos lutar contra uma parte nossa, temos de aprender a viver com ela e aceitá-la.

No processo psicoterapêutico, a ansiedade nunca é tratada de forma aparte, enquanto sintoma. Antes de tudo procuramos a raiz da ansiedade. Essa procura começa com a pessoa, com o seu histórico, os seus sentimentos, emoções, com a sua respiração, ambiente, cultura, crenças, sexualidade e com o seu corpo.

O que serve para uma pessoa pode ser veneno para outra!

Cada vez que nos conhecemos melhor, ajuda-nos a apercebermos de que nós somos coautores das nossas histórias.

A ansiedade não define quem somos, não é a nossa identidade!

Artigo escrito em dezembro de 2021 para o Portal das Psicoterapias.



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