Psicoterapia Online: o nosso vínculo terapêutico poderá ser prejudicado?

No processo psicoterapêutico, a relação que se cria entre cliente e psicoterapeuta é o ponto central da terapia. Em minha opinião, independentemente da modalidade psicoterapêutica praticada, é a relação, ou melhor o Vínculo que “cura”.

Será que a relação terapêutica fica prejudicada pelo facto das sessões serem apenas à distância e online? Tenho recebido estas perguntas desde que fomos obrigados a adoptar 100% essa modalidade por questões de segurança e saúde pública.

A resposta é Sim e Não. 

É natural que na modalidade online algo se perca no processo psicoterapêutico. 

Como por exemplo uma das pessoas que acompanho confessou que sente falta do espaço físico, o consultório, que para ela representa um pequeno oásis. Por si só o espaço é um lugar seguro, um refúgio e descanso. Outro cliente mencionou que sente a falta do aroma do incenso, do ritual de acolhimento e despedida a porta. Outro, o aperto de mão. Como psicoterapeuta corporal sei o quanto isto é importante. Estamos a tentar criar alternativas juntos, algumas servem, outras não. Por vezes apenas ouvir estas ausências com compaixão do outro lado do ecrã já alivia um pouco. A verdade é que eu também sinto falta de tudo isto.

É igualmente curioso observar que nalguns casos as sessões online são benéficas. Algumas pessoas demonstram-se mais desinibidas naquilo que partilham e até nos movimentos que acompanham o discurso. De repente, a relação ficou menos hierárquica e mais simétrica. 

Outros ficam contentes porque de repente ganharam mais tempo, é mais cómodo a partir do conforto das suas casas. Algumas relações fortaleceram-se e ficaram mais próximas apesar da distância física. A partilha de fotografias, de objetos adquiridos em viagens, conhecer os animais de estimação, mostrar a casa, as plantas, etc, trouxe outras possibilidade e “portas de entrada” na processo terapêutico e na relação.

Alguém partilhou algo que jamais partilharia presencialmente. 

Outros ainda demonstram receio da tecnologia, medo de que alguém possa estar a ouvir a conversa, medo que a sessão fique algures gravada, medo da exposição e outros receios parecidos. Nestes casos a relação terapêutica, sim, pode ficar prejudicada. É extremamente importante sentir confiança no terapeuta que o esteja a acompanhar. Faça um acordo por escrito se necessário for, onde a questão da confidencialidade e da segurança seja o ponto base. 

Sendo presencialmente ou à distância um psicoterapeuta responsável, que respeita o código de ética nunca irá comprometer a confidencialidade do processo. 

Já no tempo de Freud existiam sessões à distância. Sabemos que ele escrevia e respondia a cartas dos seus pacientes. Hoje temos a possibilidade da videochamada que é a mais recomendada. O visual é muito importante, tanto para o terapeuta como para o cliente.

Utilizem aplicações e plataformas seguras!

E nos casos em que a primeira sessão é online? Sim, a criação do vínculo pode demorar mais tempo, poderão existir mais interferências. Falar sobre isto é muito importante. Pode ser uma situação nova para as duas partes. Eu também já me confrontei com isto. Faço antes uma chamada telefónica para conhecer um pouco a pessoa e as circunstâncias que a levaram a iniciar terapia. Acredito que se criarmos um campo seguro e de confiança onde a compreensão e a compaixão predominem a aliança terapêutica e o vínculo não ficarão comprometidos.



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