O tema da ansiedade é um tema vasto e bastante falado no momento atual. Podes encontrar bastante informação e literatura sobre o tema. Encontrarás informação a partir de várias perspectivas: psicologia e psicoterapia, medicina, biologia, filosofia e espiritualidade e muito mais. Acredito que todos estão conectados e relacionados entre si em certa medida.
Quando chegam ao consultório, por norma, as pessoas já estão bastante familiarizados com o tema. O que as pessoas procuram é a cura. O que fazer?
Estaria muito feliz em conseguir dar uma resposta, uma ferramenta mágica, um exercício que fará a ansiedade desaparecer. Será isto uma solução? Talvez não.
Quando me é possível, ofereço formações sobre o tema da ansiedade e o que tenho reparado é que algumas pessoas partilham no final da formação que já sabiam essa informação, sabiam que a respiração e a consciência corporal, por exemplo,podem ajudar. Então o porquê da contínua procura? Procuramos soluções mágicas que requerem menos esforço?
Eu digo que saber não basta. Saber não significa conscientizar, aprofundar, conectar, sentir, viver a emoção, estar com a emoção/sentimento, respirar a emoção! Saber não chega. Por isso é que o tratamento não resulta. Procure aprofundar e procure ajuda de um especialista.
No entanto, quero deixar algumas pequenas dicas/ferramentas que podem auxiliar no alívio da intensidade da ansiedade.
I.
- Pare um momento e permita-te refletir desde quando começaste a sentir ansiedade. O que acontecia/aconteceu naquela altura? Que sentimentos/emoções estavas a viver? Como lidaste com as coisas na altura? Como estás a lidar com elas agora?
- Enraíza-te sentado/a numa cadeira com os pés no chão e com a coluna direita. Estás num espaço seguro e estás a proporcionar-te um momento seguro e de conexão contigo mesmo,
- Se pudesses identificar no teu corpo a ansiedade, onde estaria ela localizada? No teu peito, no abdômen, cabeça, braços, etc?
- Toca nesta parte do teu corpo e respira ao teu ritmo inspirando pelo nariz e expirando pela boca. Permite-te estar com essa sensação e liberta através da tua expiração um pouco dessa sensação.
- Fala com a tua ansiedade, diz-lhe que estás aqui e que estás a cuidar dela.
- Se a ansiedade pudesse ter uma cor, que cor seria essa? Conecta-te com ela respirando e sentindo qual é o efeito que produz-se no teu corpo, na tua respiração.
- Acolhe o que está a sentir e evite julgar-te.
- Se pudesse associar a ansiedade a uma pessoa, quem seria? Não julgues, não critiques, apenas permite-te observar.
- Respire novamente e foca-te na tua expiração. Permite-te soltar todo o ar, solte o abdômen.
- Escreve, desenha, canta, solte a voz se assim o sentires. Se vier choro, não julgueis e permite-te chorar.
É importante partilhar com alguém essas sensações, explorá-las, cuidá-las, libertá-las…
II.
- Todas as noites antes de adormecer faz uma avaliação de como correu o teu dia. Que emoções foram vividas? Permaneceste mais em alguma emoção? Que emoção foi essa? A que se deveu? Como sentiste o teu corpo?
- Todas as manhãs ao acordar senta-te à beira da tua cama e fica atento/a as sensações no teu corpo. Como é que o teu corpo encara um novo dia? Com que pensamentos acordas? Será que algum pensamento/sensação é recorrente?
- Se tomares consciência disso, o teu corpo, a tua mente e as tuas emoções vão guiar-te na direção das mudanças necessárias. Talvez precisas fazer algumas mudanças na tua vida.
III.
- Faz exercício. Todos sabemos que o exercício faz bem no entanto nem sempre respeitamos isso.
- Encontra o exercício que faz-te bem a ti e não aos teus amigos, colegas, familiares.
- Explora. Começa com uma caminhada por exemplo. Lembra-te que a INTENSIDADE não é igual a QUALIDADE/PROFUNDIDADE.
- Menos é mais. O mais importante é sentires prazer e alegria naquilo que estás a fazer!
Pode ser ginásio, dança, yoga, chi kung, caminhadas ao ar livre, corrida, etc.
- Repara em como te sentes depois de exerceres o teu corpo.
IV.
- Como está a tua alimentação?
- Cuidas da tua alimentação? Dás importância a aquilo que comes ou comer é só um ato de sobrevivência? Desfrutas de cada prato ou comes a pressa?
- Como te relacionas com a comida?
- A quais alimentos dás preferência? Qual é o teu cardápio?
Tenho observado que a relação com a comida das pessoas que sofrem de ansiedade fica difícil nos dias mais conturbados. Algumas pessoas não conseguem comer nada quando sentem-se ansiosas, por vezes vomitam e sentem dores agudas no estômago, outras comem em excesso e por compulsão. A seguir lidam com culpa e vergonha. A relação com a comida também pode ser um fator estressor no dia a dia.
Lembro-me de uma cliente que sempre que vinha às sessões comia uma sandes.
Quando a questionei sobre a sua alimentação disse-me que comia sandes porque permitia-se, sendo que era magra e isso não influenciava esteticamente o seu corpo. Quando exploramos, a sandes era o seu alimento base diário. Comia cerca de 3 sandes ao dia. Depois de mudar a sua alimentação, ela notou melhoria acerca da ansiedade.
É interessante como abordamos o tema da alimentação muitas das vezes desde o ponto de vista estético ou não damos importância apenas aos alimentos ingeridos.
V.
- Como impões limites nas tuas relações?
- Consegues dizer não às coisas que não te fazem sentir bem?
- Consegues dizer não às pessoas que são tóxicas em relação a ti?
- Consegues dizer sim as coisas que te fazem vibrar, que dão-te alegria?
- Dizes sim a vida, ao viver ou tens medo de viver?
- És honesto/a com aquilo que são as tuas necessidades? Expressas isto de fora clara e concisa?
Aqui está uma pequena parte em como podes questionar-te, refletir e sentir. Não podemos ir a ação sem realmente conhecer o que não nos faz sentir bem, conhecer a nossa história, conhecer os desencadeadores da ansiedade, saber as nossas limitações e os nossos recursos também.
Essas dicas são uma possibilidade, elas não são a cura!
Cada pessoa tem uma história única. Cada pessoa se relaciona de forma diferente com a sua mãe, com o seu pai. A forma como foi construída a relação com os pais, também pode ser um fator fundamental quando lidamos com a ansiedade.
Cuide de ti cuidando do teu passado, das tuas dores, das tuas memórias, da tua infância e caminhe numa direção cada vez mais saudável no teu presente.
Artigo escrito em dezembro de 2021 para o Inside.